São os gritos de uma alma que pensa que se perdeu. São os os suspiros de um coração ao qual não foi dado o privilégio de amar-se.
Naquela vida, gasta em prazeres efêmeros e satisfações de um ego que não consegue se encontrar em um mundo tão incompreendido, o amor simplesmente não vingou.
Não chores pequena, não lamente pequena. Você não perdeu. Você simplesmente caiu e achou a relva confortável demais para que precisasse levantar e ver que as montanhas azuis onde o Sol abençoa o horizonte com seus brilhos dioturnos e a Lua vela com sua doce canção estrelada de milhões de luzes faiscantes imensuravelmente distantes estão logo ali, a mais alguns metros de distância.
Levante-se e ande.
É interessante perceber, entretanto, que você não perdeu, mas está perdida.
Já percebeu o quanto as estrelas brilham intensamente? Já percebeu que elas sabem que inevitavelmente morrerão, mas continuam suicidando-se até que o combustível acabe?
Não pequena, você não precisa de combustível. Destarte não está morta.
Viva tampouco.
Tramou-se em suas teias de desilusões. Criou para si mesma o mundo onde agora culpa o ambiente de tê-la dissolvido.
Sabia que não deveria. Não tens juízo, lembra?
Olhe para cima. Veja as estrelas. Admire as estrelas.
Tamanho é o privilégio de carregar este seu corpo, que é capaz de encantar-se com as minúsculas faíscas luminosas infinitamente distantes, inalcançáveis, que é capaz de encantar-se com outros corpos que também se encantam com outras coisas, que é um desperdício e tanto perder tempo-vida em lamúrias. Viva um tantinho. Do seu jeito, mas viva.
Como você não sabe dissimular, talvez para compreendê-la tenha que começar por fechar os olhos.
No fundo deveríamos ser como na superfície, mas teríamos de viver de outra maneira. E o que quer dizer viver de outra maneira? Talvez viver absurdamente, para acabar com o absurdo, sair de si mesmo com tal violência que o salto acabasse nos braços de outro...
Arranca esses olhos que olham sem ver.
Pronta a sentença, pronta a ordem mentida de estar só e recuperar a suficiência, e a egociência, a consciência. E, com tanta ciência, uma inútil ânsia de ter pena de alguma coisa, de que chova aqui dentro, de que por fim comece a chover, a cheirar terra, a coisas vivas, sim, finalmente a coisas vivas.
E afinal, quem é que se domina de verdade? Quem é que tem a perfeita consciência de si, da solidão absoluta que significa nem sequer contar com a própria companhia, que sgnifica ter de entrar num cinema ou num bordel, ou em casa de amigos ou numa profissão absorvente ou, ainda, no matrimônio para estar, pelo menos, só entre os demais?
Arranca esse olhos que olham sem ver!
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