Autor: Adolfo Caminha
Editora Ática – 110 páginas
Nota no Skoob:
4 estrelas (Muito Bom)
Uma grande amizade pode levar ao crime? Ou existia algo mais entre Amaro e Aleixo? Que papel Carolina exercia entre os dois? Bom-Crioulo conta uma história de paixão e tragédia, ambientada no porto do Rio de Janeiro, do século passado [século XIX]. Baseado em fato real, Adolfo Caminha ousou abordar temas que escandalizaram o público de sua época, neste romance sempre atual.
Oi, você que está lendo essa resenha! o/
Sim, eu sei. ‘Marcada’ já está fazendo aniversário ali no ‘Estou Lendo’. Mas é que cada vez que eu vou à biblioteca devolver os livros que eu leio, eu não resisto e acabo pegando outro livro... É mais forte que eu. Mas, enfim...
É curioso como eu resolvi ler esse livro. Eu já tinha ouvido falar dele em algum dia na minha vida – o qual eu não me recordo, mas tenho certeza que já ouvi falar. Esses dias atrás (7 dias atrás, para ser exato), um amigo meu que mora noutra cidade veio pra cá, e, papo vai papo vem, ele disse que nesse bimestre estava lendo Bom-Crioulo. Na segunda-feira, indo devolver "O Velho e O Mar", olho para o lado e, bem ali, no meio da fileira da letra B, meu olho avista exatamente o título na vertical: Bom-Crioulo. Ah!, desse jeito não tinha como não ler...
Cenário
Eu poderia dizer que o cenário é o Rio de Janeiro do fim do séc XIX, a forte força entidade que era a marinha, etc, etc; mas o romance é muito mais psicológico do que físico (físico em termos de influências externas, como época, circunstância), então, o cenário acaba sendo, principalmente, a mente de Amaro.
História
Amaro, também conhecido como Bom-Crioulo, um ex-escravo fugido, serve na marinha do Brasil. Sua vida sofrida de escravo acaba quando ele descobre quão alegre é a liberdade que se sente ao deparar-se com a imensidão do mar. Poesias à parte, toda a euforia da imensidão do mar e blá blá blá uma hora passa, afinal, vira rotina.
Até que um dia, embarca um novo grumete: Aleixo, um efebo imberbe, ingênuo, frágil. Amaro apaixona-se de imediato por Aleixo, uma paixão animal, que provoca nele a vontade de possuir Aleixo só para si, como que por laços matrimoniais.
Aleixo cede aos encantos de Amaro e deixa-se estar com o negro. Bom-Crioulo então começa a idealizar o futuro dos dois, juntos, felizes e unidos. Aluga então um quartinho de uma portuguesa chamada Carolina, e vai lá morar com Aleixo.
Depois de algum tempo, Amaro acaba mudando de embarcação, o que faz com que ele trabalhe muito mais, tendo que deixar Aleixo sozinho na casa, vulnerável aos encantos de Carolina, que quer tê-lo para si também.
E chega de história...
Minha Opinião
Primeiro: o livro é naturalista. E agora você pergunta: 'tá, e daí?'. Acontece que, devido à escola literária naturalista, a narrativa descritiva do livro é minuciosa e sem-vergonha despudorada, além de ser neutra, impessoal.
Deixando um pouco o tema de lado, e falando sobre a narrativa em si, eu achei que o livro começa com uma abordagem muito sensual, que vai abrandando com o passar das páginas. No final do livro, o que resta é a essência do livro: a grande paixão de Amaro por Aleixo. Anyway, o rico vocabulário que o autor usa para descrever, não só as cenas sensuais, mas o livro inteiro, é ótimo, e faz do livro extremamente recomendável.
Atual ou antigo, um livro que fale de homossexualismo nunca é bem aceito. As pessoas já têm um pré-conceito em relação ao livro, acham que é péssimo e nem lêem. De qualquer modo, o autor não apoia nem despreza o homossexualismo: só retrata um excerto da história em que um homem amou uma pessoa do mesmo sexo e ponto.
Diz-se que o livro fala da paixão entre Amaro e Aleixo, mas, na verdade, eu achei que a situação é melhor colocada falando-se da paixão de Amaro por Aleixo, sem reciprocidade, pois, afinal, quando Carolina abriu as pernas, Aleixo foi correndo pra ela. Amaro? Amaro que se exploda! Deve ter morrido, enfim.
Não entendi por que Aleixo se rendeu às carícias de Amaro, se ele reitera várias vezes no livro que 'amor não sentia por ele, só pena'. Seria algum modo de justificar-se por ter ficado com Carolina? Quando a mesma lhe contou sobre o bilhete de Amaro ele ficou todo estremecido querendo ir ver o Bom-Crioulo.
Bom-Crioulo, que nunca tinha amado alguém antes, ao se deparar com esse "amor à primeira vista", e por uma pessoa do mesmo sexo ainda!, entrega-se totalmente a isso. Ele ama demais, confia demais, acredita demais. Ele ama demais Aleixo, querendo-o só para si, sem sequer ser tocado por ninguém mais; uma paixão um pouco paternal até. Ele confia demais em Aleixo - tanto que, sempre que pensava em ter sido traído, Aleixo estaria nos braços de outro homem - e em D. Carolina (Não, não gostei dela. Safada.).
É muito interessante o desfecho da história. Interessante é diferente de justificável, só pra lembrar.
Acho que comecei a comentar demais sobre a história... Enfim, o livro é muito bom, muito bem escrito e muito corajoso. Imagine só a polêmica que ele deve ter gerado! Para usar a gíria adequada: "Bom-Crioulo causou muito!". Rsrs.
"Como é que se compreendia o amor, o desejo da posse animal entre duas pessoas do mesmo sexo, entre dois homens?" Pg. 29.
Até mais. o/
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